“Para quem imaginava que a gerentona não ia ter paciência para o jogo político, a novidade é que Dilma, pelo menos na votação do mínimo, botou muito mais a mão na massa do que costumava fazer Lula”
Quando saí de férias no final de janeiro, registrei na coluna o desejo de que Dilma conseguisse resolver as encrencas políticas que, no seu início de governo, vinha enfrentando com seus parceiros. Volto após ela ter aprovado o projeto do salário mínimo com ampla margem de votos e com a unanimidade na Câmara de seu maior aliado, o PMDB.
A margem foi ampla, mas ninguém pode dizer que tenha sido fácil para Dilma conseguir a aprovação. Houve um trabalho intenso de bastidores. E ele revela uma diferença grande de estilo entre a presidenta e seu antecessor e criador, o presidente Lula. Para quem imaginava que a gerentona não ia ter paciência para o jogo político, a novidade é que Dilma, pelo menos na votação do mínimo, botou muito mais a mão na massa do que costumava fazer Lula.
Bem antes de virar presidente, quando concluiu que não tinha saco para ser parlamentar e passou a disputar só eleições presidenciais, Lula quantificou no Congresso a existência de uns “300 picaretas”. Mais do que inspirar uma canção dos Paralamas do Sucesso, Lula, ali, explicitou a sua visão sobre a atividade parlamentar: o baile de uma elite que costuma deixar de lado o espírito público para negociar benesses para si mesmos.
O mensalão foi a demonstração prática dessa visão. Diante da certeza de que os aliados queriam mesmo era dinheiro, montou-se um esquema para literalmente provê-los com dinheiro. Quando estourou, foi um escândalo, e foi só aí que Lula mudou a lógica de seu governo, dividindo os espaços e formando de fato uma coalizão. Lula provavelmente continuou pensando o mesmo de seus parceiros, mas agora ele de fato conferia a eles responsabilidade na condução do governo e, assim, obtinha mais estabilidade política. Todo o tempo, porém, ele só se envolvia na negociação quando a sua presença se mostrava absolutamente necessária. Do contrário, o jogo congressual era tarefa de seus negociadores políticos.
No caso da votação do mínimo, Dilma resolveu pessoalmente algumas das principais pendengas. Foi tarefa pessoal dela, por exemplo, demover a disposição do senador Paulo Paim (PT-RS) de, como sempre fez, ficar contra aumentos menores para seguir coerente com seu discurso de proteção dos trabalhadores e dos aposentados. Paim ainda votará o projeto do mínimo no Senado, mas se começasse a fazer discursos e ensaiar uma dissidência, poderia animar deputados petistas a fazerem o mesmo. A presidenta chamou Paim no Palácio, passou uma tarde inteira conversando com ele, e Paim saiu dali para fazer um discurso defendendo a política para o mínimo que o governo propunha.
A unidade peemedebista na votação também teve o dedo de Dilma. Primeiro, ela deixou claro a Michel Temer a óbvia razão pela qual ele virou vice-presidente da República. Longe de estar na lista dos melhores amigos de Lula, Temer virou vice porque ele era mesmo quem demonstrava ter maior capacidade de influência e liderança sobre o PMDB. Com o PMDB pela primeira vez numa parceria institucional, Temer não era vice para permitir que o partido seguisse no seu joguinho de criar dificuldade para vender facilidade. Ainda em janeiro, Dilma definiu numa reunião que o partido não mais deveria levar à imprensa e tornar públicas suas queixas e reivindicações.
O aspecto mais arriscado da forma como Dilma fez o jogo político é que ela resolveu jogar duro com os parceiros que não quiseram dançar conforme a sua música. A ausência do PDT na reunião de líderes após a aprovação do mínimo é o sinal claro de que quem sair da linha vai passar um tempo na geladeira. Se no caso do PDT, o recado foi explícito, outros já o tinha sentido de maneira mais sutil. No PMDB, quem mais sentiu foi o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que não conseguiu no grito o que queria em cargos e poder. Também o líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN), habita no momento um freezerzinho básico.
O que se afirma no Planalto é que outros recados virão. O que Dilma pretende mostrar, assim, é que ela aceita a ideia – que no Brasil virou regra incontestável – de que precisa aceitar condições dos parceiros para formar a tal coalizão. Mas que ela não ficará refém da vontade desses parceiros. O jogo será conforme a sua lógica. Para agir assim, Dilma e sua equipe política baseiam-se na Ideia de que, com a grande base política que elegeram, as dissidências sempre serão bem menores que as maiorias formadas e que, assim, é possível isolar os eventuais rebeldes. É uma condução que exige delicadeza, porém. O refrigerado da vez não pode se sentir humilhado nem acuado. Afinal, frio demais incomoda.
A margem foi ampla, mas ninguém pode dizer que tenha sido fácil para Dilma conseguir a aprovação. Houve um trabalho intenso de bastidores. E ele revela uma diferença grande de estilo entre a presidenta e seu antecessor e criador, o presidente Lula. Para quem imaginava que a gerentona não ia ter paciência para o jogo político, a novidade é que Dilma, pelo menos na votação do mínimo, botou muito mais a mão na massa do que costumava fazer Lula.
Bem antes de virar presidente, quando concluiu que não tinha saco para ser parlamentar e passou a disputar só eleições presidenciais, Lula quantificou no Congresso a existência de uns “300 picaretas”. Mais do que inspirar uma canção dos Paralamas do Sucesso, Lula, ali, explicitou a sua visão sobre a atividade parlamentar: o baile de uma elite que costuma deixar de lado o espírito público para negociar benesses para si mesmos.
O mensalão foi a demonstração prática dessa visão. Diante da certeza de que os aliados queriam mesmo era dinheiro, montou-se um esquema para literalmente provê-los com dinheiro. Quando estourou, foi um escândalo, e foi só aí que Lula mudou a lógica de seu governo, dividindo os espaços e formando de fato uma coalizão. Lula provavelmente continuou pensando o mesmo de seus parceiros, mas agora ele de fato conferia a eles responsabilidade na condução do governo e, assim, obtinha mais estabilidade política. Todo o tempo, porém, ele só se envolvia na negociação quando a sua presença se mostrava absolutamente necessária. Do contrário, o jogo congressual era tarefa de seus negociadores políticos.
No caso da votação do mínimo, Dilma resolveu pessoalmente algumas das principais pendengas. Foi tarefa pessoal dela, por exemplo, demover a disposição do senador Paulo Paim (PT-RS) de, como sempre fez, ficar contra aumentos menores para seguir coerente com seu discurso de proteção dos trabalhadores e dos aposentados. Paim ainda votará o projeto do mínimo no Senado, mas se começasse a fazer discursos e ensaiar uma dissidência, poderia animar deputados petistas a fazerem o mesmo. A presidenta chamou Paim no Palácio, passou uma tarde inteira conversando com ele, e Paim saiu dali para fazer um discurso defendendo a política para o mínimo que o governo propunha.
A unidade peemedebista na votação também teve o dedo de Dilma. Primeiro, ela deixou claro a Michel Temer a óbvia razão pela qual ele virou vice-presidente da República. Longe de estar na lista dos melhores amigos de Lula, Temer virou vice porque ele era mesmo quem demonstrava ter maior capacidade de influência e liderança sobre o PMDB. Com o PMDB pela primeira vez numa parceria institucional, Temer não era vice para permitir que o partido seguisse no seu joguinho de criar dificuldade para vender facilidade. Ainda em janeiro, Dilma definiu numa reunião que o partido não mais deveria levar à imprensa e tornar públicas suas queixas e reivindicações.
O aspecto mais arriscado da forma como Dilma fez o jogo político é que ela resolveu jogar duro com os parceiros que não quiseram dançar conforme a sua música. A ausência do PDT na reunião de líderes após a aprovação do mínimo é o sinal claro de que quem sair da linha vai passar um tempo na geladeira. Se no caso do PDT, o recado foi explícito, outros já o tinha sentido de maneira mais sutil. No PMDB, quem mais sentiu foi o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que não conseguiu no grito o que queria em cargos e poder. Também o líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN), habita no momento um freezerzinho básico.
O que se afirma no Planalto é que outros recados virão. O que Dilma pretende mostrar, assim, é que ela aceita a ideia – que no Brasil virou regra incontestável – de que precisa aceitar condições dos parceiros para formar a tal coalizão. Mas que ela não ficará refém da vontade desses parceiros. O jogo será conforme a sua lógica. Para agir assim, Dilma e sua equipe política baseiam-se na Ideia de que, com a grande base política que elegeram, as dissidências sempre serão bem menores que as maiorias formadas e que, assim, é possível isolar os eventuais rebeldes. É uma condução que exige delicadeza, porém. O refrigerado da vez não pode se sentir humilhado nem acuado. Afinal, frio demais incomoda.
Rudolfo Lago
Congresso em Foco
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